30 de outubro de 2015

Lembranças de PAI JOÃO DE CAMARGO



Foi um pouco depois das Águas de Oxalá e da tradicional procissão do Senhor do Bonfim, isso no ano de 1942, época em que a espada de Ogum esquartejava o mundo, foi quando o bom Pai JOÃO DE CAMARGO começou a sentir que estava perdendo forças, piorando da saúde por causa da incômoda canga que lhe pesava nas costas, já com tantos avançados Janeiros, o que fazia com que chegasse ao fim daquele inverno enfraquecido e acamado, se bem que ia sendo tratado com todo desvelo por Nhá Virgínia, dedicada mãe preta, seguidora fiel.

Assim, logo que veio a primavera, quando foi lá pelos dias de Festa dos Ibêji, que, nesse ano, pelo que parece, nem graça teve, Pai João começou a ficar muito mal, e então aconteceu, um dia depois das comemorações das crianças para os santos COSME e DAMIÃO, como que para marcar a dualidade eterna dos seres e dos ciclos, aconteceu que foi quando o "santo negro" tomou rumo de Aruanda.

29 de outubro de 2015

A trajetória de uma vida dedicada a caridade | História de JOÃO DE CAMARGO



JOÃO DE CAMARGO era um negro, "o preto velho e bom da Água Vermelha"***, um negro que refletia em sua pele os sofrimentos e os mistérios das nações africanas e das confrarias do Rosário e de São Benedito; negro que trazia, em seu corpo, as marcas dos navios negreiros, dos eitos e das senzalas, negro que cadenciava seu coração nas batidas dos atabaques nos batuques dos terreiros, dos calundus e das congadas; e que  se deixava levar, em suas meditações, por antigos sons das línguas ancestrais, dos longínquos cafundós do Mali, de Angola, do Lucumi...

Atotô Obaluaiê!...
Kabiyesi Olutapa Lempê!...
Atotô, Babá!...


***O trecho aspeado está no necrológio de João de Camargo, escrito pelo jornalista JURANDIR BADINNI ROCHA e publicado no Jornal Cruzeiro do Sul em 29 de Set. de 1942