6 de novembro de 2015

A anunciação de João de Camargo


João de Camargo foi uma dessas pessoas que, a seu tempo, se revelaram "seres especiais", dotados de poderes misteriosos e predestinados a cumprir certas missões em seu meio, após terem vivido experiências mitológicas, esotéricas, místicas ou religiosas; a seu tempo, pois, foi que ele veio a saber o que lhe foi anunciado por Rongondongo, quando da visão que teve certa noite, aos pés da cruz do pequeno mártir Alfredinho:

Tu hás de ser
Aquele da nossa cor,
o escolhido para mostrar ao mundo
o poder de Deus*

*Genésio Machado
Livro: JOÃO DE CAMARGO E SEUS MILAGRES

2 de novembro de 2015

O desencarne de Nhô João e seus fiéis seguidores...



Entre seus seguidores, houve gente que não acreditou no que viu e ouviu, e que até mesmo ficou esperando, para dali alguns dias, no máximo, que ele retornasse à vida como um ressuscitado...
Mas ele de fato tinha ido embora: uma das crentes, dona Isaura, conta que, no dia em que ele morreu, o irmão dela, de nome Benedito, "quando tirava água do poço, largou da corda, olhou para o céu e gritou para a família:'Venham todos ver! Os anjos da guarda estão levando Nhô JOÃO DE CAMARGO. Venha ver Isaura!'".*

A devoção, que havia muito despertara, desde o início do século, em vez de dissipar com sua partida, muito ao contrário, começou a crescer:  após sua morte, não apenas sua capela, mas, também, seu túmulo, no cemitério, locais de seu culto, foram palco e testemunha do aumento contínuo do número de seus seguidores, pelos quais for sempre tratado com profundo respeito místico-religioso, dentro das diferentes correntes que o multifacetado sincretismo brasileiro originou.

É um Santo!...
É um espírito de Luz!...
É nosso Pai!...**

*- O trecho aspeado é parte da entrevista de dona ISAURA DE OLIVEIRA BORGES, concedida ao jornalista Alcir Guedes e publicada no Jornal da Cidade (06 de Maio de 1984)

**- Crentes anônimos em frente a Capela do Bonfim, falando sobre Nhô João.



30 de outubro de 2015

Lembranças de PAI JOÃO DE CAMARGO



Foi um pouco depois das Águas de Oxalá e da tradicional procissão do Senhor do Bonfim, isso no ano de 1942, época em que a espada de Ogum esquartejava o mundo, foi quando o bom Pai JOÃO DE CAMARGO começou a sentir que estava perdendo forças, piorando da saúde por causa da incômoda canga que lhe pesava nas costas, já com tantos avançados Janeiros, o que fazia com que chegasse ao fim daquele inverno enfraquecido e acamado, se bem que ia sendo tratado com todo desvelo por Nhá Virgínia, dedicada mãe preta, seguidora fiel.

Assim, logo que veio a primavera, quando foi lá pelos dias de Festa dos Ibêji, que, nesse ano, pelo que parece, nem graça teve, Pai João começou a ficar muito mal, e então aconteceu, um dia depois das comemorações das crianças para os santos COSME e DAMIÃO, como que para marcar a dualidade eterna dos seres e dos ciclos, aconteceu que foi quando o "santo negro" tomou rumo de Aruanda.

29 de outubro de 2015

A trajetória de uma vida dedicada a caridade | História de JOÃO DE CAMARGO



JOÃO DE CAMARGO era um negro, "o preto velho e bom da Água Vermelha"***, um negro que refletia em sua pele os sofrimentos e os mistérios das nações africanas e das confrarias do Rosário e de São Benedito; negro que trazia, em seu corpo, as marcas dos navios negreiros, dos eitos e das senzalas, negro que cadenciava seu coração nas batidas dos atabaques nos batuques dos terreiros, dos calundus e das congadas; e que  se deixava levar, em suas meditações, por antigos sons das línguas ancestrais, dos longínquos cafundós do Mali, de Angola, do Lucumi...

Atotô Obaluaiê!...
Kabiyesi Olutapa Lempê!...
Atotô, Babá!...


***O trecho aspeado está no necrológio de João de Camargo, escrito pelo jornalista JURANDIR BADINNI ROCHA e publicado no Jornal Cruzeiro do Sul em 29 de Set. de 1942


18 de julho de 2015

A RENOVAÇÃO DE JOÃO DE CAMARGO




Assustado e atrapalhado, João arremessou a garrafa de bebida para longe e correu, meio desvairado, em direção ao córrego, talvez para acabar com sua vida naquelas águas vermelhas, como se estivesse querendo fugir da presença da visão, que continuava, entretanto, a lhe falar com mansidão.

Estavam todos sobre a cruz;
João com tamanho espanto,
Saiu correndo pela mata
Quando ouviu a voz do santo.

Nesse momento, João sentiu uma força que o impediu de continuar com seu gesto tresloucado: desistiu da fuga e da intenção de acabar com a própria vida, cedendo ante o terrífico e maravilhoso,e  voltou à cruz, à calunga, ouvindo a voz a lhe dizer:
"Que fazes, João? Isso é um pecado! Para e reflete!".
O negro, assustado e perplexo, mal compreendendo o que acontecia, e paralisado perante o mágico que se apresentava diante dele, ponderou sobre o que via e ouvia, persignou-se ante a Cruz do Menino Alfredinho e, arrependido e pedindo perdão, caiu de joelhos, submetendo-se ao sobrenatural.
continua...